Um episódio de tensão marcou a segunda-feira (3) em Felício dos Santos, Minas Gerais, quando o vereador Wladimir Canuto (Avante) interrompeu o atendimento de emergência a um paciente em estado grave em uma unidade de saúde, causando tumulto e, segundo relatos da equipe médica, contribuindo para o óbito do paciente.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, o vereador entrou na sala de triagem procurando médicos, mesmo após ser informado de que a equipe estava atendendo um caso de emergência cardíaca. Wladimir Canuto acessou os corredores e invadiu um consultório, onde encontrou um médico e alegou que ele estava usando o celular durante o expediente. Em seguida, o vereador forçou a entrada na “Sala Vermelha”, espaço destinado a casos urgentes, desconsiderando as advertências da equipe médica.

A médica responsável pelo paciente em arritmia cardíaca grave relatou que a intervenção do vereador desviou sua atenção do monitoramento crítico necessário para o tratamento de cardioversão química. Pouco depois da interrupção, o paciente veio a óbito, com a causa registrada como “bloqueio átrio ventricular total”.

Posicionamento do Vereador

Em vídeo publicado nas redes sociais, Wladimir Canuto justificou sua ação alegando que havia sido chamado por moradores para fiscalizar a demora no atendimento. Segundo ele, pacientes estavam aguardando desde as 14h, e, ao chegar na unidade às 16h30, encontrou um médico aparentemente inativo, usando o celular. O vereador afirmou que sua intenção era fiscalizar o serviço público e declarou que repetiria a ação sempre que necessário:

“Não foi a última vez que fiz isso, foi a primeira, mas quantas vezes precisar eu vou voltar e fazer de novo, porque vocês estão aqui é para trabalhar, é para atender bem o nosso povo, não é para ficar em celular em horário de serviço não.”

Reações da Prefeitura e da Câmara Municipal

A Prefeitura de Felício dos Santos repudiou veementemente a conduta do vereador, classificando sua ação como “vil e ardilosa”. Em nota oficial, o município afirmou que Wladimir Canuto invadiu a unidade de saúde de forma abrupta, propagando agressões verbais contra servidores públicos e desestabilizando a equipe médica, o que teria contribuído para o desfecho trágico do atendimento. A prefeitura informou que tomará todas as providências administrativas e judiciais cabíveis para responsabilizar o vereador.

A Câmara Municipal também se manifestou, classificando o comportamento do parlamentar como antiético e desprovido de justificativa legal. O Legislativo local destacou que o caso será investigado e que medidas internas poderão ser adotadas, inclusive a abertura de uma comissão para apurar os fatos. O comunicado lembrou ainda que, conforme o artigo 331 do Código Penal Brasileiro, desacatar um funcionário público no exercício da função é crime, sujeito a pena de detenção de seis meses a dois anos, ou multa.

Próximos Passos

O caso segue sob investigação das autoridades competentes. A repercussão do incidente gerou indignação na comunidade local, enquanto a equipe médica e os servidores da unidade de saúde expressaram preocupação com a segurança e o respeito às normas de atendimento em situações de emergência. A Câmara Municipal deverá decidir em breve sobre a abertura de um processo disciplinar contra o vereador Wladimir Canuto.